CULTURA, VIOLÊNCIA E MISÉRIA
A cultura é o verdadeiro antídoto contra a invisibilidade, a desigualdade, a violência, a desagregação e a barbárie. A integração cultural é uma poderosa alavanca de desenvolvimento social. Uma política cultural responsável e bem formulada transcende a aparente contradição entre a memória, a tradição e a vanguarda criativa.
A população de Salvador, conhecida mundo afora por sua cordialidade e hospitalidade afável, deixou-se contaminar pela violência ou pelo medo, parece estar em um beco sem saída. A violência é decorrência do esgarçamento do tecido social, da falta de amálgama cultural que permite às comunidades abraçarem seus jovens em um sentido de pertencimento, protegendo-os deste modo dos graves problemas da dependência química.Drogas como o crack vêm se constituíndo em um grave problema social. Estamos à beira de uma guerra civil, desumana, articulada pelo narcotráfico.
A cultura, como fator de promoção de desenvolvimento social, pode ser uma das mais eficazes respostas a esse problema. O engajamento na criação cultural, além de ser um poderoso estímulo didático, é uma terapia ocupacional de alto alcance pedagógico.
É preciso que fortaleçamos a cultura em seus dois aspectos principais. Primeiro, é preciso criar condições para que do povo surjam produtores de cultura. Para tanto, é fundamental a descentralização da administração cultural soteropolitana, que deveria ser socializada através da implementação de núcleos culturais autônomos, organicamente integrados à micro-cultura de cada região.
Esta divisão seria elaborada por bairros ou territórios, como as sub prefeituras. Esses centros funcionariam em caráter permanente, como unidades didáticas para o ensino prático da cultura viva e ali seriam implantadas oficinas para a confecção dos diversos produtos culturais visando à sua auto-sustentabilidade.
Acreditamos que a presença do poder público agindo diretamente em contato com as comunidades dos bairros permitiria uma melhor apreensão da estrutura cultural da comunidade, o que possibilitaria uma intervenção mais objetiva, concreta e eficaz.
O poder municipal vai partir para uma ação direta, interferindo nos caminhos culturais do povo que, mesmo em situação de exclusão, ainda cultiva a cultura com suas ferramentas precárias. É preciso socializar a cultura; permitir que a criatividade do povo da cidade da Bahia tenha acesso aos instrumentos de criação.
Iremos mobilizar a sociedade baiana, em um grande mutirão pela cultura em benefício do povo. O programa cultural do município tem que ser de inclusão cultural, em todas as suas áreas.
O outro aspecto da cultura que temos de examinar é o do consumo. Se for importante prover o povo com os meios para criar cultura, também é importante providenciar para que o povo possa consumir cultura, da mais simples a mais elaborada, da mais popular à erudita.
Daremos meios ao povo e ele produzirá cultura, ele consumirá cultura superando os abismos da carência, da droga, da ignorância, da exclusão e da miséria.
Antonio Lins - poeta e presidente da Fundação Gregório de Mattos.